AVESTRUZ
O filho de uma grande amiga pediu, de presente
pelos seus dez anos, uma avestruz. Cismou, fazer o quê? Moram em um apartamento
em Higienópolis, São Paulo. E ela me mandou um e-mail dizendo que a culpa era
minha. Sim, porque foi aqui ao lado de casa, em Floripa, que o menino conheceu
as avestruzes. Tem uma plantação, digo, criação deles. Aquilo impressionou o garoto.
Culpado, fui até o local saber se eles vendiam
filhotes de avestruzes. E se entregavam em domicílio.
E fiquei a observar a ave. Se é que podemos chamar
aquilo de ave. A avestruz foi um erro da natureza, minha amiga. Na hora de
criar a avestruz, deus devia estar muito cansado e cometeu alguns erros. Deve
ter criado primeiro o corpo, que se assemelha, em tamanho, a um boi. Sabe
quanto pesa uma avestruz? Entre 100 e 160 quilos, fui logo avisando a minha
amiga. E a altura pode chegar a quase três metros. 2,7 para ser mais exato.
Mas eu estava falando da sua criação por deus.
Colocou um pescoço que não tem absolutamente nada a ver com o corpo. Não devia
mais ter estoque de asas no paraíso, então colocou asas atrofiadas. Talvez até
sabiamente para evitar que saíssem voando em bandos por aí assustando as demais
aves normais.
Outra coisa que faltou foram dedos para os pés.
Colocou apenas dois dedos em cada pé. Sacanagem, Senhor!
Depois olhou para sua obra e não sabia se era uma
ave ou um camelo. Tanto é que logo depois, Adão, dando os nomes a tudo que via
pela frente, olhou para aquele ser meio abominável e disse: Struthio camelus
australis. Que é o nome oficial da coisa. Acho que o struthio deve ser aquele
pescoço fino em forma de salsicha.
Pois um animal daquele tamanho deveria botar ovos
proporcionais ao seu corpo. Outro erro. É grande, mas nem tanto. E me explicava
o criador que elas vivem até os setenta anos e se reproduzem plenamente até os
quarenta, entrando depois na menopausa, não têm, portanto, TPM. Uma avestruz
com TPM é perigosíssima!
Podem gerar de dez a trinta crias por ano,
expliquei ao garoto, filho da minha amiga. Pois ele ficou mais animado ainda,
imaginando aquele bando de avestruzes correndo pela sala do apartamento.
Ele insiste, quer que eu leve uma avestruz para
ele de avião, no domingo. Não sabia mais o que fazer.
Foi quando descobri que elas comem o que encontram
pela frente, inclusive pedaços de ferro e madeiras. Joguinhos eletrônicos, por
exemplo, máquina digital de fotografia, times inteiros de futebol de botão e,
principalmente, chuteiras. E, se descuidar, um mouse de vez em quando cai bem.
Parece que convenci o garoto. Me telefonou e disse
que troca o avestruz por cinco gaivotas e um urubu.
Pedi para a minha amiga levar o garoto num psicólogo.
Afinal, tenho mais o que fazer do que ser gigolô de avestruz.
PRATA, Mário. Avestruz.
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